sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Uma tarde Cinza.


Estava no Oliveira, na casa de meus avós. Naquela tarde o Itatiaia Esporte Clube jogaria no bairro da Praça contra a equipe do Renascença pelo campeonato municipal de Tijucas. Consegui uma carona com o tio Tarcisio que levou todos os torcedores na boléia do caminhão.
O vento e a velocidade aliviavam os torcedores e alguns jogadores que estavam no caminhão sobre a dificuldade de enfrentar o poderoso Renascença e sua torcida fanática.
Chegamos no estádio muito antes do inicio da partida. Os jogadores foram para o vestiário e meu tio Jorge e meu primo Luis Fernando me convidaram para ir a praia.
O mar estava de ressaca, o ar frio e o cheiro pútrido da água embriagavam o estomago. O caminho até o mar, uma estrada estreita, um terrão amarelado pela areia e poças estagnadas. O verde das pastagens era manchado pelo lixo em decomposição e pelas sacolas que rolavam sobre a grama. As cercas estavam descompostas, mourões podres e caídos, arames enferrujados e partidos e os bois magros de barriga vazia.
Caminhávamos com pressa tendo o mar a nossa frente e mesmo distante era uma barreira que nos desafiava lançando sobre nós seu hálito amargo.
Ouvimos uma charrete vindo em direção à praia. O cavalo magro galopava acossado pelo chicote. Abrimos passagem indo para a esquerda da estrada em contraste com o fundo escuro causado pelos alagamentos e pelo agrupamento de árvores na parte direita. Havia um toco de árvore na margem direita próxima à vala.
O homem puxou as rédeas, censurando os movimentos do cavalo. Pegou o chicote com a mão direita e desferiu alguns golpes na criança que estava sentada a seu lado, seu filho provavelmente.
-          Eu não te mandei tirar aquele tronco da estrada? Vá lá e faça isso! Falou o homem.
Paralisado vi o menino descer da charrete. Olhou em meus olhos e envergonhado, com as vistas marejadas calcou os pés na terra e projetando sua força conseguiu retirar o tronco da estrada. Subiu na charrete, sentou ao lado de seu pai e partiram.

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