sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Mensagem de Despedida

Deixo esta vida para permanecer na memória, na lembrança daqueles que me amaram.
Cansado do sofrimento escancarado, globalizado, da carne exposta, da morte banalizada.
Cerro meus olhos.
Os gritos, as juras e injurias, as explosões e convulsões.
Cubro meus ouvidos.
A putrefação, o esgoto a céu aberto, os químicos corrosivos.
Tapo minhas narinas.
A voz não ecoa, não retorna, não encontra barreira e desaparece.
Calo-me.
Não reconheço o que toco, tenho medo do que faço.
Amarro minhas mãos.
Não sei para onde ir, os pés não tocam o chão, tropeço, ando em varias direções, me perco.
Paro de caminhar.
Meu pênis saliente, a mostra, o ânus resguardado, reservado.
Os desligo de suas funções.
Noticias, acontecimentos, pessoas, animais, plantas, sonhos, alucinações, premonições.
Paro de pensar.
As batidas são descompassadas, oscilantes, fenecidas pelo sangue venoso.
Paro de amar.
O vento sopra movendo os pêlos, o sol queima a pele, o umbigo eviscerado sente o corte umbilical. Rolo meu corpo sobre a terra, plantas, água, espinhos a procura de uma sombra. Coloco-me sob a sombra de uma árvore e deixo o tempo consumir minha vida.

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