sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O poeta analfabeto.

Numa localidade distante do alvoroço da cidade cresceu um jovem que possuía um poder especial. Aprendeu a andar com os lobos. Andava só e descalço pela mata e as serpentes o reverenciavam. Seus pés tocavam a terra nua, a relva molhada a textura das pedras...
Foi educado pelo vento que mostrou todos os caminhos do sonho. O sol o aquecia e o iluminava. À noite o aproximava da lua e das estrelas. A chuva o enriquecia com a sinfonia que provocava seus pingos batendo nas folhas das árvores.
A água gelada que brotava das pedras supria sua necessidade de líquidos e purificava sua pele. À noite o fogo o protegia dos animais bravios, de manha os pássaros cantavam em seu ouvido e o despertavam. Temia o raio e trovão e se escondia. Adorava as montanhas e gostava de subir até o ponto mais alto e olhar o vale. Riscava na pedra a sua presença.
As pessoas duvidavam da sua existência e poucos o conheciam, porem estes poucos o adoravam. Possuía grandes amigos e pessoas da região, da cidade e de vários lugares vinham ouvir suas palavras.
Falava das rosas, do cheiro que possuíam, do sabor das frutas, dos peixes que saboreava. Com uma sinceridade externada abria sua alma, contava tudo o que sentia quando a chuva o tocava, o sol o aquecia e todos se emocionavam. Descrevia seu pavor pelo raio e o trovão e todos se assustavam.
Levava as pessoas ao cume da montanha e as deixava em silêncio contemplando o vale e permitia que os pássaros as despertassem.
Algumas pessoas tentaram escrever o que falava, mas as palavras, todas seriam poucas para representar e codificar o que ele dizia.
Não sabia escrever e as pessoas que souberam da sua alegria de viver tomaram conhecimento ouvindo sua voz.
O tempo o venceu e sua voz calou-se. Morreu sorrindo, olhando para o céu. Todas as vezes que as pessoas se sentem sós e desamparadas sobem até a montanha do homem feliz e contemplam em silencio o vale do sonho.

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