sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O Baile de Máscaras.

Um fazendeiro possuía três lindas filhas em idade de matrimonio. Era de seu interesse que suas filhas se unissem com os filhos de famílias influentes da capital do império. Prezava pela educação das moças e as mantinha enclausuradas no casarão da família.
Os criados que lidavam com os animais e trabalhavam nas plantações eram proibidos de conversar com as filhas do coronel. Apenas as senhoras da “casa grande” conheciam as moças. Elas se dedicavam a musica, passavam horas lendo romances e sonhavam com a chegada do amor das suas vidas. Pelo pouco sol que tomavam eram pálidas, os cabelos negros e os olhos amendoados e escuros contrastavam a falta de luz.
Havia um criado que era de muita serventia para o coronel. Era o melhor domador de cavalos e excelente na lida com o gado. Muitos falavam de “boca pequena”, que era filho bastardo do coronel.
O trabalho do dia-dia definiu sua musculatura de modo que atraia as mulheres. Seu interesse era conhecer as moças da Casa Grande. Em algumas ocasiões observava a silhueta das moças na janela e tinha súbitos estalos para se aproximar da janela, mas como seria severamente castigado por tal atitude, desistia.
As moças eram interessadas no rapaz e se alternavam na janela observando aquele moço que “disfarçava”, não tirava os olhos, apreciava.
De longe não conseguia diferenciar as moças de modo que acabou se apaixonando pelas três. As jovens eram proibidas até mesmo de visitar a fazenda, assim, ele via suas chances de conhece-las diminuir a cada dia.
Descobriu que a única maneira de conhece-las seria ir ao baile de máscaras, uma festa que acontecia às vésperas do natal. O moço pediu a sua irmã que fizesse três máscaras e mantivesse segredo.
Nos primeiros dias de dezembro chegou na fazenda o filho do coronel que estudava na capital.
O moço ficou contente, pois surgia oportunidade de arranjar o terno para o baile. Na véspera do baile ele entrou na casa grande, foi no quarto do filho do coronel e pegou o terno que melhor lhe servia. Antes de deixar a casa grande esteve no quarto das moças, entreabriu a porta e as observou enquanto dormiam.
Durante o dia seguinte trabalhou normalmente e a tarde encilhou o cavalo que mais gostava e partiu para a cidade. Ele entrou no baile usando uma das três mascaras, as outras duas estavam em seu bolso. Escolheu uma das filhas do coronel. Dançaram algumas musicas, conversaram sem que em nenhum momento o moço compromete-se seu segredo. Na oportunidade que teve foi ao sanitário trocou a máscara, voltou ao salão e tirou a outra moça para dançar. O moço se sentiu atraído pela voz e pela maneira desta moça dançar, porém após algumas marcas levou a moça a seu lugar dando desculpas de que iria a rua tomar uma fresca. Lá trocou novamente as máscaras, depois voltou ao salão pediu permissão à filha do coronel, a que ainda não havia tirado para a dança, e foi atendido. Aproximava-se a meia noite e o fim do baile. O moço estava feliz por ter conhecido as três filhas do coronel. Sabia que eram ricas e que cada uma a seu modo e características eram belas e inteligentes. Para não sobrecarregar a mente com uma difícil escolha, resolveu deixar o baile antes do fim sem causar suspeita.
O que ele não desconfiava é que as três moças o reconheceram e tomaram as mascaras como sinal de sua duvida.
Logo após ter chegado na fazenda, o jovem despiu o terno e foi leva-lo a seu lugar. Surpreendeu-se quando viu o filho do coronel dormindo. Supondo que também estivesse no baile, suas irmãs também estariam em casa. Foi ao quarto das moças, entrou. Ficou próximo a porta observando-as enquanto dormiam. Não se conteve e se aproximou das camas, porém não percebeu que as moças fingiam e no momento oportuno levantaram e fecharam a porta. O moço ficou sem perspectiva, temendo que fosse entregue ao coronel, no entanto elas se aproximaram e pediram a ele que fizesse a escolha.
Ele tinha muitas duvidas e disse que não as conhecia o suficiente para tomar uma decisão definitiva. Então elas fizeram uma proposta: teria ele uma semana para tomar a decisão e feita a opção jogaria a mascara pela janela.
O moço se viu em uma difícil situação. Sabia que se despojasse uma das moças, qualquer que fosse, estaria desgraçando-a e de modo algum o coronel consentiria com a união e com certeza deserdaria a filha “ingrata”.
As moças passaram aquela semana com expectativa, pois enxergavam naquele moço a oportunidade de conhecer as belezas da natureza e desfrutar o encanto que sentiam pelo ambiente que as envolvia. Passavam as tardes olhando as montanhas, as estrelas a noite e sonhavam com o barulho da água numa cachoeira.
O moço chegou a conclusão que se ficasse 10 anos refletindo, não teria certeza da decisão tomada e caso não jogasse qualquer mascara estaria fechando um caminho que ele próprio construíra, então pensou na moça cuja pele, maneira de dançar mais o seduziram. Lembrou-se dos corpos em contato, das mãos, dos gestos, a boca e olhos que mais o perturbaram. Fechou os olhos e tateou a máscara de sua escolha.
Elas estavam tensas, a espera da decisão. Por sorte o ar puro que entrava pela janela as acalmava. Quando suspeitou que todas dormissem foi à janela e jogou a mascara.Ela caiu sobre a cama ainda vazia e arrumada.
As moças se entreolharam, umas estavam sentadas, outra de pé. Aproximaram-se da mascara. A moça que fora escolhida se impactou ao ver a máscara sobre a cama. Suas irmãs se emocionaram com a cena e sabendo que a “sorte” só contemplaria uma pessoa. Resignaram-se.
O moço estava só no estábulo ouvindo os animais se alimentarem. Os pensamentos surgiram em sua mente criando varias possibilidades deixando-o atordoado. O portão do estábulo se abriu. Ela veio só, pisando leve no torrão; chão batido. Devagar de costas fechando o portão como se estivesse guardando um segredo e virando-se lentamente. Olharam-se. Era difícil falar e se aproximar. Os movimentos eram oscilantes. O ritmo do coração alterava-se. Olhavam-se desviavam o olhar e se aproximavam. Trocavam algumas palavras, esboçavam assuntos sem importância e se abriam aos poucos. Deitaram na palha lado a lado. Olhavam as estrelas dos telhões quebrados. Apagaram os lampiões. Tremiam e ofegavam, as cochas se tocavam, as mãos e o beijo. Aos poucos foram se acalmando, trocando caricias e se excitando. As resistências diminuindo, as roupas...
Entregaram-se e se desligaram dos problemas do mundo externo.
O sol havia raiado e ainda dormiam. Nem as galinhas os acordavam e muito menos sonhavam que o coronel já havia sido chamado ao estábulo.
O portão foi aberto com violência. Acordaram assustados, com palhas nos cabelos, roupas desfeitas. Não fosse a intervenção das filhas do coronel os dois seriam mortos ali mesmo. Refeito da raiva súbita, o coronel deixou-os viver com a condição de que sumissem da sua frente.
As três irmãs se viram pela ultima vez. Ainda puderam se abraçar, dar adeus e boa sorte. Dias depois o coronel tomou a decisão de mandar as filhas estudar na capital.
Dizem que o casal deserdado conseguiu estadia numa fazenda distante. Ele domando animais, ela educando as filhas de outro coronel. Contam que durante muitos anos os cavaleiros que partiam em busca de amor montavam os cavalos domados pelo moço de bom coração e que a moça apaixonada compôs a musica mais bela que os amantes já ouviram.

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