sexta-feira, 10 de dezembro de 2010


Pássaros não voam.
Pássaros cantam na minha janela.
É nela.
É nela que penso.



Beleza é amor.
O coração é maior que o homem.
O homem está próximo da verdade.
O mistério permanece.


Eu tenho a linha.
Eu tenho a linha para construir o mundo.
Ela se move.
Move o mundo.

A linha...
A linha é tudo.


Não sei o que digo, não o conheço.
Mas sinto a necessidade de dizê-lo.
E está dito.
O que está evidente em mim é a busca por um novo espaço, talvez a sua ampliação e tudo é verdade, pois o sinto; é necessário.

Procuro na cor.
Procuro na sombra.
Procuro na face.
Um relâmpago.
Uma chama.


O portão se abre.
                 Balança.
O cavalo pasta no pasto.
Balança o rabo.
Espanta as moscas.
Alguém passou.


A lua.
Uma lâmpada.
                 Acesas.
                 Nuvens dançando.
                    Reflexos na janela.



Cada flor, uma cor e cheiro.
Cada fruta, uma cor e sabor.

Posso reinventar o meu tempo.
Posso reinventar o meu passado.
E nunca saberei quem esteve á meu lado.


Sol.
Nuvens brancas.
Brisa leve.
A chuva.
Ela passou.


Eu procuro a beleza.
Uma gota de orvalho.
Uma lágrima.
Uma peça intima.
Uma cor.
Uma flor.
Sua pele.
         Nua.
         Crua.



Quero escrever como quem canta.
Como pássaros.
Na dança.
Voar sem ninho.
Com migalhas no bico.
Cantar voar.
Nadar no vento.
Ser canto sem pranto.
Ser musica.
Ser vento.
Sentimento.
Cantar na rua.
Na esquina.
Na sombra.
Na lua.
Soprar amor em seus ouvidos.
Cantar em sua janela.
Mesmo que haja vidros.
Tocar, tocar.
Acendê-la.
Faze-la brilhar.
Tocar no útero.
O sol.
A nascente
Amar, amar.
Ao mar.
À noite.
Ao sempre.
Que seus olhos enxerguem minha sombra.
Me coroem de amor e espinhos.
Retirem minhas roupas.
Me olhem.
Me olhem.
Me façam existir.


Vou gozar a noite.
Gozar o dia.
Que nasce.
Nascerá.
Amanhã.
Serei eu.
Novamente.
Na curva.
Na chuva.
Na mente.
Você será minha.
Mesmo que morra.
Eternamente.



Não conheço este tempo.
Ele não me convence.
Às vezes caminho na chuva.
Noutrora brilho no ventre.
Descobri que o cinza.
É um martírio pra alma.
Pois revela sua face.
Incompleta.
Quebrada.
Pela metade.
Sem saber de si.
Uma equação sem solução.
Onde não há meio.
Nem fim.
É difícil falar do cinza.
Descreve-lo é impossível.
Em seus mistérios.
Poetas e pensadores.
Perderam cabelos.
Gastaram cotovelos.
Tinta e tempo.
E, porém o problema...
Não há cor que me convença.
O brilho não mais ostenta.
As cores são outras.
Brilhos fosforescentes.
Ritmos, baladas.
Uma noite iluminada no cérebro.
Mas e o amanhã?
Onde haverá luz?
Quem virá do escuro?
Quem é este que surge da sombra?
Onde estão os homens poetas?
Os poetas homens?
As flechas?
O amor?
A fome?
Onde canta a sereia?
A morte.
A luz dos homens?
Onde está a vida?
Que desaparece.
Some.
Porque minha alma não se cala?
Porque não envelhece?
Porque não para?
Nuvens brancas no céu.
Azul infinito.
Até quando?
Até onde?
Porque o olho sente?
Uma coisa boba.
Um coração carente.
Uma alma ausente.
Que voa.
Não ecoa.
Some.
Toda noite é branda.
A tempestade não anda.
E se hoje for amanha?
O que acontecerá ontem?
Quem fará a noticia do dia?
Uma nota dispersa.
Uma crise nos ministérios.
Moratória; moradia.
Quem será a capa?
A última novidade nova.
Quem brilhará na noite?
Quem será sombra no dia?
E se for amanhã?
Quem será passado?
O ultimo gole.
O ultimo enlatado.
A sobra da sopa.
O lixo, refugo, refugado.
Onde o pássaro fará seu ninho?
Onde?
Onde?
Em que lugar no tempo a morte se fará valia?
Um lugar para a morte?
E a sorte?
O nariz?
O umbigo?
A fonte?
O abrigo?
Qual a ultima nota?
Que dará o inicio?
Quem penetrará no vazio?
Quem fará a revelação?
O outro lado.
Atrás da massa escura.
Da concha.
Do espelho.
Quem nos trará a vida?
Povoará meu olho.
Meu espelho.
Quem romperá a barreira?
Abraçará o tempo?
No meio.
No seio.
No queixo.
O eixo.
A morte e o vento.
Que tempo é este?
Em que página estamos?
A noite é bela.
A sombra fascina.
O reflexo revela.
E nada tem seu fim.
Tudo se transforma.
Gira mundo.
Roda anda.
E nada permanece.
No coração de quem ama.





Só entende quem chora.
Uma nota.
O bater das horas.
Só entende quem chora.

Não consigo enfrentar a noite.
Ela me devora.
Me devora.
Come.
Estou só.



Tantas noites na sombra.
Sem ar.
Ou aroma.
Tantas vezes passei.





Sinto cheiro de rosas.
O galo canta.
A morte é branca.

De que adianta a noite.
Se o sofrimento é eterno?
Para que flores?
Rosas?
Se no fim tudo termina e o que resta é nada.

Eu nem sei por que estou aqui.
Há essa hora?
Não há propósito.
Não há estrelas.
Nada brilha nesta noite.
Nada se ergue.
Se levanta.
Aconteceu.
É passado.

Só novamente.
A única coisa que me salva é o hálito da noite.
A leve fragrância sem cheiro.
Nuvem temperada.
Doce.
Seu cheiro palpita.
Sou artesão.
Amo a vida.

Esta noite a lua sangrou o sol de amanha.
Nuvens vermelhas.
O que acontecerá quando a luz surgir no horizonte e tudo recomeçar?
Haverá palavras repetidas?
Foices?
Laminas?
Tiros na escada?
Noite me proteja.
Meu peito dói.
As lágrimas não se fazem.
Estou à beira.
Próximo do fim.
Noite.
Sono.
Fecharei meus olhos.
Por favor, intercedam por mim.

Se fosse sonho teria acordado no principio.
Mas.
Despertei na forca!
Entre nuvens e gritos.
Se chovesse teria sido bom.
Chegaria de alma lavada.
Sorridente.
Mas não há gota.
Nenhuma lágrima.
Nada.
Simplesmente nada.

O passado desperta.
Lembranças multiplicam-se.
O caminho é o mesmo.
A noticia é a de sempre.
Não há saudade.
As páginas são pesadas.
Noticias repetidas.
Um frio cortante.
Chove, chove.
Gotas geladas.
Estou a pé.
Na rua, na calçada.
Só.
Infelizmente não.
Porém, mal acompanhado.
Descalço.

Como é bom sentir a lama.
Correr, pular na poça.
Que desce o barranco.
Água espumante.
Como é bom caminhar na lua.
Lá onde a noite é uma mentira.
Como é bom tocar a grama.
Correr no pasto.
Dormir na sombra.
Chorar no quarto.
Abraçar o travesseiro.
Dormir na cama.

Ouço.
Tudo é verdade.
Sapos.
Ruídos.
Zumbidos.
Pássaros nas folhas.
Tudo é.
Esta em mim.

A noite.
Só ela me acalma.
Seu hálito.
Sua sombra.
Meu coração agradece.
Salvou minha alma.






Não há paixão nem razão.
Apenas uma sombra.
Um vapor sem gota.
Aqui não há nada.
Nem reflexo. Nem água ou luz.
Estou cego.





Perdi-me no abismo, mergulhei em poço profundo.
É escuro, suave e eterno.
Por mais que avance.
Por quão rápido seja.
O fim é eternamente distante.
Estamos condenados à eternidade.
Somos a loucura por trás da mascara.
Não vivemos.
Habitamos.
Não morremos.
Nunca.
Somos a eternidade do dia anterior.
Do que passou sem ter passado.
Do que passou.
Sem ter acontecido.
Somos um elo entre coisas finitas e infinitas.
Somos o auge fim de algo supremo, que nos passa, atravessa e nos leva.



Depois da loucura.
Surge o homem.
Em meio à noite.
Surge o homem.
Ele não sabe.
Esta com fome.



Estou sem tempo.
Preparar trabalhos.
Verificar.
Avaliar.
Contar moedas.
Calcular.
Andar.
Correr.
Nascer.
Não há tempo.
O poeta está desempregado.
Sem tempo para exercer sua função.
Sem tempo.
Para viver.
Amar.
Sonhar.
O poeta esta sem tempo.
Sem alma.
Sem corpo.




Investi na inocência.
Na “pureza” do ser.
Passei fome.
Frio.
Sede.
Desejei.
Desejei apenas.
O objeto da minha vontade.
Era algo distante.
Impossível, intocável.
Meu corpo em fúria.
Desejava.
Ardentemente.
Mas a cura, a fruta.
Eram impossíveis.
Castrei-me, viajei na loucura.
Abstive-me da luta e da guerra.
Meu desejo era amar.
Amar somente.
Unicamente.
Fugir ao céu e a fonte.
Viver.
Plenamente.
Mas a luta se travava na carne.
E quanto mais sonhava.
Maior era minha angustia.
Mais distante minha conquista.
O corpo sangrava.
E quanto mais fugia.
Mais o sangue escorria.
Procurei refugio na alma.
Mas o sofrimento imperava.
O suicídio, a morte, o abismo.
De nada adiantariam.
Resolvi fugir de meu corpo.
Mas ele me perseguia.
Deixei então a maldade saltar das veias.
Arrancar as vísceras.
Desejei.
A carne e o sangue.
Enfrentei os fantasmas.
Expulsei-os do meu olho.
Meu alcance.
Reconheci a carne.
A morte e a vida.
Tudo encontrou seu eixo.
Os fantasmas destruídos.
Os desejos alimentados.

A carne respira.

Vive.

A alma descansa.

Em paz.






Sê escrevo é porque amo.
Só quando amo, sou feliz.
O amor é um lugar.
Uma estrada sem fim.



Será que tudo foi um sonho?
Mulher anjo.
Anjo medonho.


Ah como sou mentiroso.
Como menti todo este tempo.
Sempre desejei rosas na grama.
Orvalho luz e amor.
Sempre amei.



Somos nós que ali estamos.
Catando migalhas.
Catando moedas.
Andando, morrendo.
Na calçada.
Somos os milhares.
Pisoteados.
Humilhados.
Ali estamos.
Apodrecendo.
Ossos, olhos vazados. Furados.
Ali estamos.
Venerando nosso carrasco.
Ali estamos.
Sofrendo na cruz.
Nossa face não á enxergamos.
Não sabemos quem somos.
Muito menos conhecemos aquele que causa nossa morte.



Por um instante vi o tempo parar.
Ele continuou.
Eu fiquei.



Sinto como se estivesse nascendo.
Ontem.
A vida começa a irrigar minhas veias.

Mora minha alma.
Mora num balanço.
O tempo vem.
E vai.
Se vai.
Nunca tem seu fim.
Eu ando.
Apenas ando.
Nunca descanso.



Pintam Cézane sem saber Cézane.
Escrevem Baudelaire sem saber Baudelaire.
Tateiam no escuro com lâmpadas acesas.
Há luz.
Muita luz.
O olho não descansa.
Nada se sabe.
Nada sabemos.
Olhamos sem olhar.
Amamos sem amar.
Dizem que vemos que sabemos, mas a verdade é que nada temos.
Nada sabemos.
Estamos condenados ao falso saber, ao achar que se sabe.
Ao falso ver, ao falso amar.
Somos assassinos.
Estrelas sem guia.
O homem não funciona.
Não é.
Vivi-se o reflexo no espelho.
Caímos em nossa própria armadilha.
Aprisionados aqui estamos.
Com sede, fome e vergonha.
Condenados.
Aqui estamos.
Devorando-nos.
Devorando.
Caímos no espelho.
Sem fé ou arreio.
Caímos no meio.
Onde tudo termina.
Onde nada acontece nada.
De que adianta gritar?
Se estamos aqui.
Morrer então?
Não. Não. Este não é o caminho.
A passagem não esta aberta.
Entre o homem e o sonho o que é que existe?
De que são feitas essas paredes?
Tenho sede.
Uma rede?
Não. Este não é o momento.
Melhor a morte que me deixa sem alma, mas aqui sou eterno?
O que fazer agora?
Rir-se de si mesmo?
Lágrimas?
Para que?
Não.
Ainda não.
Melhor a sombra.
A noite sem alma.
Melhor a vida que me deixa sem casa.
Melhor as flores.
Que cantam nos meus ouvidos.
Tenho fome.
Muita fome.
Estou aqui, na terra dos homens.



Nuvem.
Chuva.
Lua.
A minha.
E a sua.
Uma flor caminha no vento.
Estamos na rua.



Morrer de fome.
Que loucura.
É o bicho homem.
Sem casa.
Sem nada.

Deixe o vento tocar meu sonho.
Quero dormir acordado.
Sonhar sonhando.
Andar andando.
Ser sendo ser.
Sendo ser sendo.
Alguma coisa qualquer.

Uma tarde.
Um sonho.
Uma estrela.
Vento na janela.
Fios dançando.
Balançando.
Era ela.

O tempo me fez velho.
Fez-me velho na infância.
No tempo de criança.
Quando a criança conhece o trabalho.
Ela se transforma.
Multiplica-se.
Verdades viram lembranças.
O trabalho conserva a criança, o sonho.
Faz o homem.
Sua memória tudo alcança.
Ele tudo viveu.
Sem ter estado.
É capaz de sentir sem ver.
É homem sem ser criança.
É criança fabricada.
Seu mundo é muito.

O que tenho é um sonho.
E nada mais.
Estas são minhas posses.
E este é meu testemunho.

Este é meu mundo.
Estas são minhas historias.
Minhas dores.


Como é difícil separar o falso do verdadeiro.
A poesia.
Do estaleiro.


Gotas de saudade.
Alegria.
Fim de tarde.
Meu coração renasce.


Uma gota de saudade.
Uma chuva, rua vento.
Uma lágrima no tempo.
Você aqui no peito.
Batendo.
Aqui dentro.

A felicidade mora na cor.
Na curva de seus cabelos.
É uma alegria sem tempo.
Que dura à eternidade de um momento.


O inverno.
O vermelho.
O cinza sem pelo.
Amarelo cor de rosa o ano inteiro.

Reflexo.
Efeitos de luz e calor.
Meu peito nasce.
Abre-se, nasce.
Vejo montanhas.
Azuis no final.
A atmosfera invisível mostra sua cor.
As nuvens cinza me assustam.
Possuem uma densidade que é bela.
Pairam sobre minha cabeça.
Quanto amor sem gota.
Quantas flores no jardim.


Quanta mentira na ponta do meu nariz.
Quanto hálito sem sal.
Conversa de curral.
Político sem bandeira.

Flores são casas.
Abrigo de crianças.
O coração não fala.
Mas o peito dança.

O tempo.
O tempo não dança.
Quanto detalhe numa pedra.
Quanta vida numa criança.

Amar o mundo é a melhor saída.
A alma invade o peito.
Não encontra obstáculo.
Buraco.
É vida.
É vida.

Não vejo essas imagens claras, puras, limpas.
O que vejo é buraco, sujeira, poeira.
Vazio navio.
Segunda feira.
O que vejo são ângulos.
Reflexos.
Angustias.
Pântanos.
O que vejo não cabe no peito.
Mas entra revirando escombro.
O que entra não tem sujeito.
É ave rosnando.

Por um instante.
Vi o tempo parar.
Aqui bem próximo.
Diante de meu olho.
Ele arrastou as veias e meu peito desceu.
Naquele instante tudo foi eterno.
Gritos, palavras.
Papéis na estante.
Naquele instante a morte tomou posse de mim.
Virei pó, poeira.
Areia sem fim.
Naquele instante o mundo parou para ouvir-me cair.
Naquele instante eu morri.


O mundo me faz belo.
Amo.
Sou sem sal, porém belo.
Amo as aves que voam na minha janela.
Lágrimas umedecem o olho.
Não é saudade.
É a felicidade que me invade.

A vida pede tempo.
Pede vento.
A vida pede abrigo.
Pede sonho.
Luz.
Ela está comigo.


Nesse dia descobri que o mundo é outro.
Que paredes possuem canto.
Que o vento causa espanto.
Nesse dia tudo nasceu.


Nosso tempo lida com todas as páginas da história.
Nosso tempo lida com todos os registros, tudo o que se tem “noticia”, tudo o que é matéria. Tudo o que já existiu. Nosso tempo é uma memória.

O ser humano é um detalhe.
Um pedaço.
Um grão de areia no deserto.




O que foi este tempo?
Quem colocou água no vento?


Quero viver um sábado.
A vida sábado.
A alegria e a esperança no dia que virá.



Vejo poltronas.
Anjos sentados na parede.
Vejo meu sonho descansando numa rede.



Tive de conter as lágrimas.
Segurar o homem.
Ir para a guerra.
Apresentar raiva.
Deixar o ódio dominar o olho.
E vejam.
Tudo o que queria era um abraço.
Uma palavra amiga.
Um aperto de mão.
Apenas um gesto me bastaria.
Que pena!
Sou mais um soldado sem pátria.
Que rasteja sem alma.
A espera de atenção.

O galo canta.
Novamente a morte é branca.
A noite acabou na areia.
Sem ar, sem veia.
Morreu uma pétala.
Caiu sobre uma poça de lágrimas.
Descansa em paz.

Chorei na cruz.
Ao ver que a cruz ali não estava.
Percebi que era cruz.
Que era prego.
Que era homem que gritava.
Percebi que a morte atravessou meu corpo e me colocou suspenso no tempo.
Chorei.
Lágrimas de pedra.
Vi meu olho correr nas nuvens.
E pousar num galho, sem esperança.
Uma árvore sem fruto.



É. Aconteceu.
Quem viu meu futuro?
Agora tudo acontecerá rápido, tão rápido que te assustará.



A poesia não propõe outro lugar, um além. Ela propõe o mundo, ele mesmo em sua inteireza.
A poesia propõe um lugar externo aos limites da cultura. Ela propõe a vida, o encontro ou seria o reencontro? Por isso a grande dificuldade. Saber que na verdade somos unha e carne. Ah, mas com um pequeno detalhe; sabemos que somos.



Um livro é um sonho.
Uma palavra sem anjo.


Palavra.
Palavras.
Palavra doce.
Palavra azedo.
Sem açúcar.
Sem remédio.
Palavra feito, palavra conceito, palavra é.
Está feto, esta feito.
Mulher, mulher. Aceito.
Colher, talher, colher.
Cacho de uva.
Violeta madura.
Morango avelã.
Amanha, manha de manha.
Orvalho, gotas de chuva.
Cabelo, fios, cabelos.
Seio, seios, meio.
Leite, aveia, centeio.
Arreio, freio, sem freio.
Pã, Tupã.
Pão, terra, trigo.
Abrigo, meio, seio.
Mel, fel, réu.
Sal, céu, mel.
Rede, balanço, vai.
Vem.
Vento.
Vai.
Vem.
Vento.
Vai.
Vem.
Cem, trem, amém.
Vai.
Vem.
Mil, anil, Brasil também.
Flor, odor, dor, calor, pavor.
Amor, flor, dor.
Amor, dor, odor.
Amor, calor, frescor.
Água, água, água.
Transparente, reluzente.
Liquida.
Água, água.
Pedra, morada, casa, casada.
Pá, enxó, enxada.
Madeira, pollera, flor, aroeira.
Serpente, que voa, que voa, que voa.
Na veia.
Na terra.
Na serra.
No meio.
No seio.
Na guerra.


Mã, mãe.
Sã, são.
Muitos.
Muitos, muitas.
Milhares.
Milhares.
Milho, trilho, fumaça, brilho.



O tempo do acontecer.
O tempo do eu.
O tempo de você.
O tempo da morte.
O tempo de viver.
O tempo do sempre.
O tempo do ser.

O tempo do poeta é uma bicicleta.
É uma roda numa estrada deserta.

Há um momento na vida.
Há um momento no homem.
Que nada resta.
Não resta nada.
Nem fome.
Este é o momento pedra.
Pedra é seu nome.
Deixo meu cérebro falar.
Deixo que fale.
Ele sabe.
Sabe o que dizer.
Enquanto isso fico a beira.
Próximo da nascente.
Esperando na sombra.
Água no ventre.
Ninho.
Mil vezes minto.
Multiplico desejos.
Doces, vozes, sexo.
Mergulho, destruo-me.
Acasalo-me, casulo.
Azul, médio, meio grande.
Corro sobrevôo, montanha.
Mergulho no tempo.
No vento.
No ontem ante hoje.
Futuro do ontem.
Perco-me.
Durmo acordo, durmo.
Jogo palavras.
Palavras número.
Palavras tempo.
Coisa de vagabundo.
Vaga – lume vagabundo.
Não sei.
Perco-me.
Me perco.
Perdido.
Aqui estou.


Preciso de uma flor.
Uma rosa no capim.
Preciso de dinheiro, tempo.
Mulher, espaço.
Morrer enfim.
Desistir, morrer, vencer.
Lutar.
Morar.
Amar, chorar.
Encontrar.
Você.
Você.
Sim.
Sim.


Estou sem letra.
Sem poesia.
Careta.
Sem amor.
Amar.
Nada na gaveta.
Estou sem estimulo.
“iluminação”.
Sem amor, paixão.
Apenas desejo.
Tesão.
Meu olho não brilha.
Nada na noite.
Nada no dia.
Co – autor, autoria.
Tenho fome.
Alma vazia.
Falta.
Ausência.
Você.
Você.

Falta.
Faltam palavras.
As dores.
Os tremores.
Os amores.
Infelizmente tudo foi.
Falta água.
Adeus.
Oi.
Estou nada.
Sem abelha.
Sem casa.
Repetindo poemas.
Palavras.
Preciso viver.
Novamente.
Novas experiências.
Experimentar.
Curvas.
Bocas.
Nucas.
Uvas.
Seios.
Vulvas.
Viver.
Viver.
Gozar.
Gozar.


Como era bonito.
Aquele sorriso.
Infinito.



A palavra de um homem é a fome.
Um desejo.
Que consome.





Por onde que viaja meu sonho sem luz ou abandono?
Por onde que viaja?

NASCII.
NASCI.
NASCI.
FINALMENTE.


Descobri: cai no espelho.

O que é a liberdade?
O que é que é.
Essa tal liberdade?


Nada me impede de fazer.
Nem a morte me impede de viver.

Agora vejo.
Foram homens.
Foram homens que fizeram este mundo. .

Estou aqui.
Morrendo.
A plena luz.
A noite.
Ela é eterna.

Se morrer for encanto.
Levem-me.
Pois aqui não estou.
Aqui apenas sou. 

Boa noite.
Amei.
Sempre amei.
Sempre fui.
Sempre chorei.
Flores no campo.
Gotas de orvalho.
Nunca toquei.
Aqui sempre chorei.


Lágrimas?
Onde estão?
O liquido vira pedra.
Sofro.
Sou água sem queda.
Nunca serei.

Porque agora?
Porque tudo me devora?
Lágrimas são farpas.
Meu coração não bate.
Apenas voa.

Não sei o que é sonhar.
Apenas ando.
Sonhando.
Alguma coisa, algum dia.
Encontrar.


Se morrer for a paz.
Prefiro viver no inferno.
Pelo menos aqui.
O sangue escorre.
Livremente, serenamente.

Qual a cruz?
Que martírio carrego?
Onde estão os pregos?
Porque viver é sofrer?
Qual o preço?
O que carrego?
Porque não posso ser feliz?


Não fosse a esperança.
Já estaria na forca.
Mas eu carrego muita força.
Muita vontade de viver.
Plenamente.
Até o sempre.

Morrer?
Desistir seria fácil demais.
Prefiro ficar.
E tentar viver.


Olhar as nuvens.
Vê-las moverem-se.
Dançando.
No céu.

Como é bom escrever.
Excretar angústias.
Tentar viver.


Uma imagem.
Uma imagem me basta.



Lágrimas são pétalas.
Folhas caídas no chão.
Lagrimas são sonhos.
Vontades sem direção.

Que me interessa se a morte dispersa.
Estou aqui.
Isto é o que importa.

Minha alma é uma ferida aberta.
Onde morte e amor.
São estradas desertas.

Entre eu e o espírito.
Reina a incompreensão.
Compreendida.
Entre a morte e a vida.

Pai.
Perdoe-me.
Eu não sei chorar.