quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O egoísta.




Sim. Porque não? O fato irremediável é que, queiram ou não, digo a verdade.
Mortes, acidentes extravagantes, quem se importa? Eu não seria diferente, voto a favor, sigo a corrente.
Morreu ontem? Foi estuprada? E daí, não aconteceu comigo. Porque me preocupar?
Meu vizinho é depressivo? O que é isso?
Que brincadeira é essa?
Que vá trabalhar para curar essa moléstia.
Sou artista?
Represento o sofrimento alheio?
Que mentira descarada, pois não consigo nem fôlego para resolver os problemas que tenho em casa.
Ora essas me acusam, quem é essa dona hipocrisia?
Seria uma velha mulambenta, dessas que vagam por ai de peito caído e barriga vazia?
Palhaçada! Ora essa, nem pintei o nariz de vermelho. Qual é a graça?
Ironia! Sim é verdade. Mas o que adianta?
Nem assim enxergam?
Não tenho sentimentos, sou um ser informe!
Veja só me acusam, abusam da minha sinceridade. Desconhecem que meu sofrimento é tamanho que ando abraçado com a morte.
Sim protestem, façam cartazes.
Gritem, gesticulem.
Façam mesmo, eu os aplaudo.
Chamem toda a atenção, briguem, quebrem as caras, virem noticia de jornal.
Documentário de televisão.
Matem-me sim. Sou um câncer.
Devorem-me, pois mereço.
Sou um criminoso devasso. Incorrigível.
Sem alma e sem causa, uma moeda sem valor, que só ocupa espaço.
Sim. Porque não? Não há maneira.
Que façam. Que rasguem a carne ruim e sem gosto, pois é necessário e além do mais, não há culpados e nem é necessário pedir perdão.
Ora. Concordo plenamente, haja vista, pedir perdão a quem não é mesmo?
Ora façam, já é hora.
Acaso não sabem manipular uma faca?
Que puxem o gatilho então. É mais fácil.
Ah tremem!
Só não me peçam para fechar o olho, pois estou tão ansioso e tão feliz por esse momento.

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