sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Os Olhos da Serpente.


Meu pai decidiu plantar eucaliptos na parte mais alta do morro, no terreno que pertencia a meu avô. Havia sido uma pastagem, mas o terreno íngreme e os pedregulhos dificultavam o acesso dos animais e com o tempo o mato foi tomando conta a ponto de existirem plantas de 3 a 4 metros de altura.
Roçávamos, esperávamos secar e depois fazíamos a queimada para limpar o terreno.
Enfrentamos dificuldades com as inúmeras casolas de marimbondos, com as abelheiras que possuíam colméia nas pedras grandes no cume do morro, com as formigas Saracutinga e com outros animais em geral e principalmente as cobras, em específicos as jararacas que infestavam o local.
À medida que avançávamos os animais fugiam, à medida que o fogo avançava movido pelo vento e roncando nas pedras, estralando e transformado as plantas em fumaça os animais que podiam fugiam. A luta pela vida era intensa.
Estávamos roçando próximo ao cume do morro, junto ao paredão de pedra. Por medida de segurança mantínhamos distancia que correspondia ao comprimento dos nossos braços somados a extensão do cabo da foice. Em lugares próximos as tocas, em pedras ou onde o mato decomposto deixava a terra fofa, propícia para que os répteis rastejassem sem serem percebidos, diminuíamos nosso ritmo de trabalho nos aproximávamos e cada golpe da foice era sucedido de observação e silêncio. Atentos a um barulho qualquer que denunciasse a presença de um animal a nossos pés.
Naquele dia, já tarde, próximo do por do sol, meu pai depois de uma foiçada que lascou nas pedras e faiscou, ouviu uma movimentação estranha. Próximo a seus pés estava uma serpente camuflada entre as folhas de feito. Ele desferiu um golpe, mas a serpente escapou, movimentando-se rápido entrou numa toca nas pedras. Meu pai sabia que as cobras não costumavam deixar o lugar onde eram encontradas, e para evitar que fossemos atacados meu pai a seguiu até a toca.
Ele percebeu que a toca possuía duas saídas, então me deu um pedaço de pau e mandou que vigiasse a saída de cima em pleno cume da montanha. Meu pai cutucou e atiçou batendo com uma haste de madeira na entrada da toca, mas a serpente acuada, permaneceu escondida.
Temeroso, me mantive alerta, com as mãos erguidas, segurando firme o pedaço de madeira em posição de ataque. Mantinha os olhos fixos na boca da toca, a espreita, porém quando a serpente se mostrou não esbocei reação. Por alguns segundos nossos olhos se cruzaram. Nos reconhecemos, nos aparentamos, meus músculos travaram. Ela recuou e voltou a toca e se projetou pela outra saída e fugiu serpenteando sobre o mato. Meu pai deu-lhe um golpe, mas não a acertou. Ela rapidamente rompeu o alcance da vista.
O tempo passou, porém seus olhos ainda brilham em minha mente.

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