quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Tempo.

Lembranças de pó.
Lembranças de areia.
Lágrimas que não se fazem.
Amores que não respondem.
Pós-feriado.
Faxina.
Ressaca.
Cacos de vidro.
De telhas.
Sob um véu poeira.
Ícones do passado.
Daquilo que foi.
Passagem aberta.
Tempo de menino.
De criança.
De família.
Filia.
Moradia.
Páginas abertas.
Alicates enferrujados.
Enxadas gastas.
Marcas do tempo.
Passou por aqui.
Levou meu peito.
O arremessou ao chão.
Cabeça batida.
Tarde cinza.
Rebaixam-me.
A um estado de reflexão e angustia.
Não choro.
Penso.
Rastelo.
Areia e poeira sobem.
Latas enferrujadas.
Passou por aqui.
Deixou ferrugem nos metais.
Gastou ferramentas.
Sujou, cortou, inflamou.
Passou por aqui.
Levou, leva-me.
Me levará.
Ele não para.
Ele vive aqui.
Madeira pregada.
Camisas rasgadas.
Conservas vidros.
Cheios de ar.
Restos daquilo que foi.
Que agora é lembrança.
Daquilo que um dia foi.
Outra coisa que não esta.
Que cruza meu olho.
Foi.
Marretas.
Picaretas.
Pés de cabra.
Foices.
Martelos.
Chinelos sem sola.
Lixo.
O passado será reciclado.
Lembranças serão fatos.
Objetos concretos.
Novamente.
O peito quase chorou.
Tampa sem panela.
Chinelo sem par.
Enxada sem cabo.
Vidros vazios.
Fezes, carcaças.
De ratos.
Sujeira suja.
Fedorenta.
Discos de vinil.
Freezer sem porta.
Guarda-chuva quebrado.
Casa sem – teto.
Passou por aqui.
Tijolos que já foram barro.
Água areia.
Que já foi.
Fomos, somos, seremos.
Ele nos leva.
Não para nunca.
Xadrez sem peão.
Sem rei.
Encontrei.
A lembrança do que passou.
Assusta.
Não tem olho.
Nem sabor.
É resultante.
Resultado indefinido.
Cálculo abreviado.
Daquilo que é.
Somado ao passado.
Retrato de homens.
Objeto de homens.
Experiências.
Memoráveis.
Memórias.
De ontem, da criança.
Uma cama sem colchão.
De solteiro.
O jardim é terreiro.
Um olho que não veio.
Fornalha sem fogo.
Estufa sem ação.
Lembrança é.
É outra coisa também.
É aquilo que foi.
+ o que é sobre o que será.
O passado agora é noticia.
Acontecimento.
Hoje é história.
Amanhã é memória.
Revirar cacos, remover a poeira.
Mesmo que sejam.
Do vovô.
Da vovó.
Causa pranto.
Passou.
Precisa ser descartado.
Reciclado.
Se for o caso.
O importante é a limpeza.
Periódica, rotineira.
O passado tem seu tempo.
Eternos são instantes de memória.
O que foi precisa ser reconstruído.
Eliminado quando doer.
O homem caminha.
Sua história não segue linha.
E quando olha para trás.
Reflete.
Não volta.
Lágrimas caem.
O coração não é de pedra.
O novo homem.
Nasce todo dia.
Ele precisa reler, rever seu passado.
Beber novamente.
O tempo não espera.
Filho ausente.
Andando.
Aprendendo.
Deixando sementes.
Aquilo que foi.
Atravessa meu olho.
Costura minha pele.
É lembrança.
Porém a carne.
Ela muda.
O passado não serve.
Tem de ser guardado.
Para que não haja repetição.
Em tempos diferentes.
O ritmo não pode ser quebrado.
O que passou é aprendizado.
Experiência.
Agora acontecem outras coisas.
A vida se renova envelhecendo.
Com o tempo.
Experimentando.
Gozando, lutando.
Revirar o passado.
É mergulhar na fraqueza.
Descobrir que passamos.
Que geramos beleza.
E refugo.
Que sujamos.
Coisas apodrecem.
Filhos crescem.
Enxadas envelhecem.
O tempo.
Ele nos atravessa.
E nos leva.
Passamos sobre a terra.
Lembranças.
Transformam-se no olho.
O ontem pode ser hoje.
Talvez amanha.
Com outra forma.
Outra textura e cor.
Porque as coisas.
Elas mudam.
E mudamos com elas.
O ontem não é solução para o agora.
Agora é outra coisa.
O passado esclarece.
Frutos crescem.
O que é lixo.
Deve aceitar o destino lixo.
O que é de utilidade.
Deve permanecer.
Pois assim são todos os dias.
Tempo de memória e descarte.

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