sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Poemas Incultos.




Macia e honesta a morte beija meus lábios.
Sua boca e sua língua quente tocam minha garganta deixando um rastro de saliva.
Suas unhas arranham a pele inerte.
Os corpos projetam-se, encontrando-se suspensos sob a nevoa.


Caminho sobre uma navalha de aço lustrado.
Com os braços estendidos, me equilibrando no vento,
Perseguindo meu destino digitado, contrabalançando o peso do corpo em meio ao vazio que me encontro.
Os pés enterrados na lamina fria e reluzente e o abismo a espera.
Mantenho os olhos fixos no horizonte impalpável
Não vejo o sangue sob meus pés
E continuo fiel a minha condição de alma corajosa
Fiel aos papéis que digitaram para mim.


É na hora da raiva que os espíritos unha e carne mostram suas faces.
O ódio cega o infeliz passante.
A fúria move seus músculos rígidos.
As mãos prontas a esfolar o inimigo suspeito armam-se em raiva.
Os dentes rangem excitados.
O infeliz carnal perde o controle da máquina neural
E guiado pelos seres informes, mergulha no sangue e no lodo e comunga o sangue e a carne de seu semelhante.
Queria eu por este poço de fúria diante do cruel espelho.
Ao ver seu retrato multiplicado em infinitas cópias de sangue e horror este monstro insensível quebraria o espelho revelador e desapareceria em meio aos estilhaços.


Suspiro febril, o cérebro em tormenta.
Calafrios, premonições.
O fantasma esguelha, os olhos trocados, suspiros gelados, gritos uivados, a tumba vazia.
Passos na floresta.

Por que sorri parta mim a esta hora da madrugada?
Nem ao menos sei seu nome.
Tua imagem é para me lembrar de outra pessoa, alguém distante que amo em solidão.
Não insista.
Não conseguirá me seduzir, a menos que uma noticia tenhas a me dar.


Sufoca-me este vazio escarpado esta carne mutilada, essas almas desalmadas, os olhos arregalados, o horror entre dentes, as mãos em suplica, o choro inocente.


Perdi-me.
Neste momento não há nada que possa ser feito.
Está dito.
As energias se esgotam, a carne desaparece em meios as duvidas e perturbações.
Estou morrendo.
O corpo debilitado fraqueja em suas obrigações.
A noite e a chuva.
O frio e a escuridão.
Não consigo suportar o peso da chuva e a noite esvazia minhas esperanças.
Calco o pé na lama, na água que escorre contaminada.
Tenho vontade de mergulhar na poça me desfazer e acabar com esta agonia.
Não consigo não tenho coragem.
Nem que me ajudem.
A falta de coragem e a noite escura revelam cruelmente o fato incontestável de que sou insignificante.

Pronto está feito.
Todo o necessário foi dito.
De que adianta o pranto derramado
O pólen recusado,
Se tudo o que quero é ser amado.


Meus olhos fechados.
Não conseguem apagar.
Aquelas faces de belos sorrisos
Que surgem para me acalmar.
Analgeseiam a dor.
Curam as feridas.
E semeiam a esperança
Nesta carne apodrecida.

Como posso amar.
Se antes de tudo odeio.
Como posso beijar
Se o sangue apodrecido.
Alojado entre os dentes,
Exala o profundo e sincero.
Cheiro da morte. 


O calor do meu corpo e o frio da madrugada.
Dama da primavera.
Noiva da noite escura.
Musa desdentada.
Penetra no meu sono.
E fecunda enluarada.
Atravessada, ultrapassada.
Morre calada.
Aparece e desaparece.
Deixando um rastro de nada.
Noite sem cor, luz ou calor.
Desaparece iluminada.
Efetuando a divisão desfeita.
Contente de barriga vazia.
Deixa seus filhos.
Escorrendo no vidro.
Da janela fria.

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