quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O incapaz.




Incapaz de dizer o que sinto.
Escrevo.
Solto as palavras através de meus dedos.
A caneta corre livre; solteira, derramando o liquido industrial que registra e documenta meus sentimentos.
O liquido escorre feliz, sem ressentimentos, duvidas ou censura.
Deixando sobre a página branca ou suja as formas da minha existência.
É matéria pura.
Calculada depois do ato.
Não é reflexo do que aconteceu.
Mas sim do que poderia.
É através do infeito que as tintas ganham formas reconhecíveis, construindo a máscara indigesta que cobre a timidez assumindo a forma do desejo.
Os olhos se cruzam.
São capazes de perceber a ambição um do outro.
As palavras, porém, não alcançam a sinceridade dos olhos e assim segue a partida empatada.
A uma distancia segura.
Num campo limite e neutro, isolado do conflito necessário e desarmado sem poder.
É horrível a amarga lembrança.
O poderia se não pesasse nos ombros o medo, a angustia e a insegurança.
Um ambiente repressor criado por medos internos teme a investida definitiva e necessária.
Se não há palavras.
Se a voz não ecoa.
Nada se concretiza.
E tudo permanece.
Assim como ontem.
Os olhos se cruzam.
Mas as bocas não se tocam.
Não há contrato nem rebelião.
E assim segue.
Zero a zero.
Tempo normal, morte súbita, prorrogação.
Até a hora tal.
Onde atacante e atacado.
E visse versa.
Encontram-se na marca da cal.
Se bola cruzar a linha e estufar a rede.
Teremos 1x 0.
E se for 3 à 3?
Sem duvida haverá vencedor.
Sempre houve.
Porém desde que haja batalha.
Enquanto reina o império do olho as palavras não assumem a forma do desejo e nada acontece.
E deste modo não há partida jogo ou batalha.
Pois não há contato.
Físico e nuclear.
Que de inicio ao acontecimento.
E assim.
Sem que nada consiga ser dito.
Não há contato nem contrato.
Apenas confronto abreviado.
Assunto inacabado.
Sem palavras.
Nada acontece.
Depois do poderia.
Resta a escrita sem graça.
Do como seria se.
Da especulação sem graça.
Durante a noite solitária.
Maldito conto contrato social.
Que me obriga a agir como normal.
Ter que numerar e alfabetizar meus sentimentos.
Decorar e condecorar.
Todos os meus desejos.
Para que com gestos suaves e harmonia.
Eu expresse toda minha angustia.
Tesão e paixão necessitada.
Com palavras doces.
E boas risadas.

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