quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O outro.

Ele não existe.
Morreu na fogueira.
Catador de papel.
Soldado triste.
Desencarnado.
É pó enlatado.
Choro mudo no escuro.
Condenado.
Chora na fonte.
Morre sedento de sede.
É. É ele.
Do outro lado.
Depois do fim.
Caiu no abismo maldito.
Mal sinalizado.
Caiu só.
Morreu calado.
Canta loucuras numa noite sem fim.
Dança no escuro.
Tem medo de mim.
Sorri cego de olho mudo.
Tateia migalhas.
Defecando, exaurindo.
A fina dobra sem dono.
Dorme sem coisa.
Sem teto ou afeto.
Dorme ele.
Irmão coragem.
Sem vergonha, com esperança.
Dorme, bebe, descansa.
Cata, cata na lata.
Lata que bate não late.
O som bandido do alicate.
No outro lado da rua.
Uma esquina depois do fim do mundo.
Anjo mal feito.
Vaga – lume vagabundo.
Ele é ele.
Ninguém conhece.
Sabe-se que vive.
É caverna da sombra.
Sua respiração fala.






O outro.
O outro lado.
Aquilo que não é visto.
Não é provado nem reprovado.
É, antes de tudo, negado.
Anjo de sombra.
Na noite do meu olho.
É ilusão, fumaça clara luz.
É inviso sem vinco.
Grito que ecoa mudo.
É noite.
Meu olho não vê.
Esta atrás.
Depois de.
Após a morte.

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