quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011


RJ. Seres humanos. Conflitos urbanos.
Efeito arado. Citação e alegoria.
Intermediação escrita falada e visual.

A Batalha do Rio. Primeiro ensaio sem rima.

Traficantes meninos do trafico (falcões). Consumidores (classe média).

1 proprietário. 2 traficante. 3 meninos do trafico. 4 consumidor. 5 estado.

O que quero fazer? Um texto descritivo do processo criativo? Porque minhas duvidas?
Porque me dói e perco a capacidade de representar a expressão humana?
Digam-me.

Sem moralismos, sem dó.                                      A vida real.

Estou vendo através da imagem, (foto de jornal), não estou diante, não pertenço ao acontecimento, sou um observador. Apreendo com os sentidos. Não toco a atmosfera do acontecimento. A hora tal. Vejo a partir de um enquadramento. Tento penetrar no espaço sem viola-lo. Apenas vejo, sinto, estou do outro lado. E mais: o que vejo? Como vejo?
Sei que são. Sei que foram. Aconteceu.

Como fazer uma linha reta com uma régua torta? 

9 homens do exército nacional.
8 fuzis a vista.
9 capacetes.
                 Pelo menos.
2 relógios a extrema esquerda.
1 tanque de base.
                   Quase inviso.
1 lâmpada acesa.
                  Em pleno dia.
Mais uma acesa.
                   Quase não se vê.
+ outra apagada.
Dvds piratas.
Uma dúzia ou +.
                    Sobre fundo sem luz.
Conde 15.
                         A rua talvez.
A Batalha de Ucello.
                      Anghiari.
                      Breda.
                      Três de maio de 1808.
                      Guernica de Picasso.
                       Os retirantes.
                      Guararapes.
                       Humaitá.
                      A Batalha do Rio.
Um poste em elevação.
Uma linha divisória de cimento.
Fios de cobre eletrificados e encapados.
                       Inúmeros.
                       A exaustão.
                       Assim como as veias.
Duas janelas.
                       Escuras por dentro.
Uma escada para não sei onde.
          Escuro à esquerda.
Uma toalha vermelha e de banho.
            Secando no varal.
Dois vasos com plantas indecisas.
Dois canos dobram-se de joelhos.
                 E penetram na parede.
Cimento exposto.
Talvez cocho de lavar, baldes.
Quem sabe.
Folhas verdes a espreita.
Fios, muitos fios.
Energia circulando.
             Pulsando.
             Sujeira também.
Duas janelas novamente em cima.
         Na da direita.
         Uma senhora.
         Uma mulher.
         Uma menina.
Da minha direita.
                    Para a esquerda.
L. S.
14.08.
Quem foi?
Fios de alta tensão.
              Circulando energia.
Uma lâmpada de iluminação publica apagada.
Adesivo grudado na janela.
Partes de uma escada.
Buracos na parede.
Sabonetes no basculante.
Rede de abastecimento de água.
                                        A vista.
Ângulos.
Pontos de vista.
Inumeráveis.
1 cano 25 polegadas rompe o concreto.
                               E se apresenta.
                               Do lado de fora.
                               Eliminador de excessos.
R não sei o que 2004, BOA +algumas...
Sobre tijolos.
Iluminação sem graça.
Manha a meio mastro.
 homem olha.
             Para onde.
             Relógio no pulso direito.
             Chorte azul atrás do vidro.
            Sem camisa.
             Esta na sacada.
             O poste aponta sua ponta.
             Antes do final.
             Fim da linha.
             + uma janela. 

 

                     A linha do olhar.
Soldados                                                              homem
                                                                             Mulheres.
               Fotógrafos.
                          Formadores de opinião.
                               Observadores.

Os soldados no primeiro plano mantêm um circulo de atenção e observação.
Estão a espreita.
Caçam e são caçados.
Descem a ladeira.
Atentam, apontam.
Estão encurralados.
A senhora na janela.
Com a mão esquerda sobre o queixo.
Olha para os homens de farda.
Lá em baixo.
A mulher olha a frente.
Tendendo levemente a sua esquerda.
Ela vê o fotógrafo no 2° ou 1º andar.
Pressente o registro e cobre os olhos da criança.
Para que não veja.
Para que não seja vista.
Esta feita à foto superior da capa.
O homem do 3º andar.
Olha para baixo.
Seu ângulo de visão encontra o fotografo.
Que registra a imagem da base da capa.
Esta montada a matéria.
Um soldado no 1º plano.
Percebeu a presença dos fotógrafos.
E olhando de esguelha.
Mostrando os dentes.
Encena seus gestos.
Representa.
Faz pose.
Estão descendo.
Saindo.
O crime esta no registro.

(não se trata da destruição da imagem, mas sim da imagem construída. O registro é um estupro, um desrespeito).


Goya: A imagem como impacto.
Estudos preliminares sem esperança.
La Bataglia del Rio..
Acaso e criação.
Acaso e contradição.
Espaço em branco, em pausa.

OBS: conversando com minha amiga, colega, fotografa, descobrimos que se trata de um registro apenas, ou seja, uma fotografia, uma imagem, um ângulo de visão.
Que falha! Mas já estava escrito.
Errata na próxima edição. 

O sangue escorre.
Na favela da agonia.
A energia corre.
                 Escorre nas minhas veias.
                 O anjo padece.
                 Grudado numa teia. 






Processo criativo.


O inicio é o que existe e circula nos meios de comunicação. Neste caso em especifico, uma imagem que deixa o espectador a par de um acontecimento ocorrido no Rio de Janeiro. Antes de terminado o 1º semestre ganhei esta imagem da professora Sandra Fávero. Guardei a imagem entre outras e materiais meus e atravessei as férias sem vê-la. Estava lá, hibernando, como minha mente.
Iniciado o 2º semestre novamente na oficina de gravura, surgiu à possibilidade de trabalhar a imagem. Exitei resisti, tentei trabalhar com lembranças da infância, mas nada ganhou vida. Recorri a imagem que estava lá, guardada. Tentei estuda-la “palmo a palmo”, detalhe por detalhe tentando apreende-la e desvendar todos os mistérios nela contido. Investiguei a manipulação do acontecimento, a maneira e de que forma a “noticia” era propagada. Fiz uma serie de esboços a caneta, lápis sanguínea e saliva com a intenção de vê-la a imagem.
Aos poucos as mascaras foram caindo e sobressaia-se uma realidade montada com objetivos e alvos específicos. Um crime representacional.
O que prevalecia em meus desenhos-esboços eram as linhas dos fios de energia emaranhados. Uma energia física e humana que circulava contida estava pronta a detonar-se. Entrar em curto circuito. Desencadear o horror e a morte, mas tudo era calmaria, energia controlada, a morte ainda não era.
Meu maior temor seria cometer o crime propagado no meio de comunicação. Afinal de contas estava diante do registro de um acontecimento que apresentava seres humanos agindo em diferentes “locais” da estrutura social e eram acima de tudo seres humanos, semelhantes a mim, um observador privilegiado. Tanto os soldados do exército nacional quanto às pessoas que olhavam pela janela eram humanos como eu.
O que levava seres humanos a se encontrarem naquelas condições, (a respeito da imagem impressa no jornal), era o que me incomodava. Afinal qual é a fonte de nossa aflição?
Com o auxilio de um espelho e de uma faca fiz uma serie de imagens a ponta seca tentando “enquadrar” detalhes da imagem. Destinei três matrizes aço 1020 ao trabalho a água-forte. O que enfatizei foram às linhas que carregam a energia contida, assim como os fios elétricos, as veias, a vida. Ao limpar a matriz percebi a possibilidade de realizar monotipias a partir do percloreto utilizado para a corrosão das chapas. Antes de enxaguar a matriz eu cobria a com uma folha sulfite ou seda extraindo a partir deste ato uma imagem. Outra ocasião propicia foi o momento de retirar a camada “asfalto” que protege a chapa da total corrosão em água-forte. Inserindo o solvente, deixava que o liquido circulasse sobre a chapa dissolvendo o asfalto gerando paisagens acontecidas. Meu esforço constituía-se em colocar o papel sobre a matriz e retirar uma imagem a partir do acontecimento. Estava feito. 

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