quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Estudo sobre a gravura contemporânea.



Meios “tradicionais”, livres da obrigação da reprodutibilidade. Novos materiais para experimentação.
Novos meios de reprodução de imagens.

Vivemos em um tempo sem precedentes na história humana, onde meios de expressão anteriormente com funções especificas, se encontram exclusivamente a disposição da investigação humana.
Reportando-me inicialmente aos meios tradicionais da gravura, ou seja, xilo, ponta seca, água forte e água tinta, evidenciam-se a independência ou disfunção destes meios para a função que os trouxe a existência: a reprodução.
Essas técnicas surgiram e foram fundamentais para o evento e perpetuação da humanidade em épocas remotas e recentes e agora se encontram desligadas desta função.
Por um bom tempo que coincidiu com o fim da 2º Grande Guerra Mundial e a efervescência econômica norte – americana nos meados dos anos 50 em diante estes meios foram sistematicamente condenados a “morte”. Dado as surpreendentes, sucessivas e velozes alterações na cultura e na forma, comunicação – propagação de imagens, palavras e sons. Estes métodos perderam e isto é fato a capacidade de reproduzir e projetar as imagens da ordem do dia.
Para estas técnicas o ostracismo lhes valeu o caminho das sombras e do anonimato ou a clandestinidade. O tempo mostrou que não se tratava de uma morte e sim de um período de hibernação.

Acaso e contradição.

O ser humano do novo milênio é um individuo de outra ordem existencial. Não se sente como o criador articulador que realiza coisas, numa materialidade externa, e é agora, pois que suas especificidades tornaram-se visíveis.
O ser humano do século 21 não parte do “zero”, o zero matéria ou acontecimento e ligação. Seu corpo é suporte de expressão. Material “acontecido”, transformado continuamente.
O corpo, matéria física, age sobre o inteligível, dialogando, refletindo o ser, suas crenças.
A matéria esta dada. Não é zero, nem indiferente nem força neutra, é acontecimento potencializado.
O ser humano trabalha com o acontecimento o passado presentificado, documentado, futurizado.
Ele é atingido em seus diversos níveis de consciência e apreensão. Nomeia reordena estetiza o caos e a perturbação neural.
Acaso não é matéria informe, pedra que cochila sobre as águas, é o inesperado provocado chamado a roda da ejaculação humana.
É realidade possibilitada pela ação, humana. O ser é a matriz da necessidade que se fundamenta em suas crenças instáveis e mutantes, (e principalmente vontades: o ser humano é acima de tudo o portador da vontade).
A matéria o atravessa atravessado num ângulo de esguelha de 45º a –15º graus: é o que acontece na lacuna deixada pela ação premeditada. A informação penetra e se aloja silenciosa a meio caminho do fluxo do raciocínio utilitário. A mensagem é armazenada e mistura na sopa que compõe a psique humana. Dorme tranqüila mais uma semana.

Entretenimento.

A era da facilidade e do fast food – sirva-se à vontade.
Síndrome da experiência reduzida.

A era da facilidade e do fast food.
Sirva-se à vontade.
Múltiplo artístico, múltipla cultura, múltiplo individuo, multiplicidade múltipla.

O novo milênio surge através da fácil acessibilidade dos meios de comunicação. As distancias desaparecem, desvirtualizam-se, virtualizadas pelas telas de computadores. O individuo é acessado e acessível, esta em rede, conectado ao mundo digital.
Sua meta é a comunicação fácil e rápida e a divulgação da sua matéria, ou seja, sua existência.
O individuo, portador da existência física, realiza o registro e a transmutação da sua gene inserindo seus caracteres nos meios de comunicação digitais. É através destes meios que sua existência “física” é assegurada, documentada e ganha sentido, ou seja, a condição de ser ligada a condição de estar, de ser vinculado, de ser digital.
Vive-se o momento da facilidade e da redução da necessidade do outro. As relações humanas se tornam superficiais, aparentes e são substituídas por produtos da tecnologia.
À medida que reduz – se a relação físico-social dos indivíduos aumenta-se a agonia e a violência. O ser perde a consciência do espaço ocupado, mergulha as cegas, a clara luz, na incoerência do outro desarticulando as relações humanas de convívio, respeito, dignidade e integridade.
O outro é a possibilidade de um espetáculo. O ser é um espectador em potencial.
Na era do entretenimento tudo é passível de ser evento e de servir como meio de distração e anestesia geral.
Nesse meio o turismo evidencia-se como fonte de deslocamento e consumo.
A cultura é visitada com regularidade e tem seu espelho estampado nas camisas e nos avisos de “Boa Viajem”. Estive aqui, natural de. Vim vi e consumi, volto mais tarde ou em breve.
A massa oscila, circula e transforma uniformizada. Movimenta-se, ora lenta, ora voraz, seguindo o ritmo da possibilidade econômica. Ora quente, ora fria, ora em alta, ora em baixa.
A massa informe transforma-se individualmente de acordo com a circulação de indivíduos indiferenciaveis, apenas reconhecíveis a seus pares. A massa é uma energia concentrada, guiada por um desejo comum que se expressa no calor do espetáculo. A energia da massa é sentida. Indivíduos, células irreconhecíveis, se agrupam entorno de uma compatibilidade e afinidade temporal e de crença, um ajuntamento que pode durar uma vida ou 90 minutos de uma partida de futebol. Para que a energia da massa seja sentida é preciso que haja um evento que concentre indivíduos em torno de uma crença, caso contrario ocorre à dispersão cotidiana, o mergulho no submundo da existência não assistida.
A massa é um ser povoado de indivíduos. O ser é a potencialidade de uma existência que se concretiza massificada ou documentada. A condição de ser esta relacionada à condição de estar, de ser clicado, lincado, divulgado e sugado, tornado noticia ou ser digital.
A cultura popular, o natural de: é efeito da circulação-visitação e do turismo propriamente. É manifestação e sintoma da universalização da contradição e incoerência do regime globalizante. É retrato da unicidade multiplicada, transformada e destruída constantemente. Imagem de um processo ambíguo e difuso que destrói o passado e transforma o presente em futuro. Tem-se em pratica um efeito “arado” que abala e revira as estruturas antigas, descarnando crenças, regimes e identidades. O novo panorama está exposto, a espera da sorte, do acaso, de um milagre ou da chuva que umedeça a terra devastada e seca favorecendo o surgimento de uma nova planta. Não no sentido de que seja “única” e sem qualquer “herança”, mas jovem, livre das pragas que mutilaram e fragmentaram os frutos do passado. Uma planta nova, escaldada, sem sombras de proteção, mas fortificada e vitaminada pela correção dos erros do passado.
Em meio à contradição do sistema a nova planta é o renascimento de esperanças. O desejo, inerente ao ser humano, de alcançar a verdadeira existência.


Síndrome da experiência reduzida.
Tecnologia, comunicação, facilitação, conhecimento, espectador.

A espécie humana alcançou o limite do conhecimento, do controle e da manipulação do acontecimento. O homem domina o evento, controla e subverte o acontecimento. Vive-se a era da desumanização da animalidade humana.
O ser desumano se encontra confinado, domesticado, enjaulado, coberto de si e ignorância. As vias axiais de expansão de seus estímulos são abortadas, limitadas e pulverizadas. Resta então à concentração, o acumulo de raiva, horror e medo Esta em voga a desarticulação do ser. Sua complexa e infinita conexão extra-intra, esta em curto circuito.
(meu coração: porque dói? Queres falar?).
Meu Deus, tu sabes que desconfio de ti. Acredito que tudo esta em mim, então seria falso ou incoerente o que escrevi acima quando afirmei estarmos ligados.
Não consigo raciocinar, vou urinar.
O ser se encontra consumido, possuído pelo ou por seu evento. Sua capacidade de gerar esta limitada a uma condição de produção imparcial. O conhecimento e controle sobre os eventos antes inexplicáveis fizeram o homem superar a barreira do medo e da crença. A confiança, a certeza no depois de amanha, criou a convicção de que o homem é capaz de ver e apreender todo o ciclo da existência, que seria capaz de prolongar e monitorar a vida, determinando seu fim no instante em que o complexo carnal expira-se ou finda-se.

Áreas de gozo: necessidades facilitadas, instrumentos tecnológicos.
Perda da consciência e do jogo que fundamenta a civilização.
Animalidade: instinto/ pulsão.
Jogo: sociedade/ comportamento social.

A facilidade de satisfazer os desejos da carne e portanto, nutrir a animalidade que compõem o individuo humano (utilizando-se de meios que não os da natureza da relação humana), leva-o a atrofiar-se enquanto possibilidade de expressão comunicação e reduz sua capacidade de sentir.
O ser tem então sua experiência humana reduzida, atrofiada e confinada. Deste modo o ser humano perde a noção e repudia o exercício da animalidade, excluindo-se da relação, do jogo que fundamenta a sociedade. As fronteiras da permissão e proibicidade se diluem. O individuo flutua sem ter consciência da extensão e do poder do seu braço.
As incoerências do ser são historicamente infinitas. Desde a agricultura e a escrita a privação do ser, de sua animalidade é o fundamento que permite a atuação em sociedade, vinculando diferenças de direito e deveres individuais atrelados a uma conduta de grupo. A privação do ser, sua compartimentação organizada é desde então o meio que permite a vida em sociedade, vinculadas a condutas de cultura.
A desarticulação do jogo cultural, o complexo de crenças que legitima a ação da individualidade, transforma o ser num objeto livre, independente e desumano.
A descrença e o refugio em si permitem a independência da incompreensão humana. A insuficiência do jogo priva o individuo de exercer sua animalidade social e liberar os fluidos da carne e mente, ocorrendo então um desequilíbrio interno que tende a uma extrapolação inesperada de raiva descontrolada.
Neste momento a morte não constitui momento de reflexão existencial e social, vulgarizando-se então o crime e o delito.
A impossibilidade de se desumanizar, uma impossibilidade financeira transforma o individuo num caminhante, (errante), retardatário, habitando espaços culturais onde o limite entre o ser social e sua animalidade se encontra em linha de choque não delimitada. Uma situação complexa onde não há limite e nem a morte serve de parâmetro de discussão.





Bibliografia:


ACQUARONE, Francisco. História das Artes Plásticas no Brasil; atualizada por Leda Acquarone de Sá. Rio de Janeiro: Edição Atualizador, 1980.
AMARAL, Aracy. Arte Para Que? A Preocupação Social da Arte brasileira de 1930 – 1970. SP: Editora Nobel, 1987.
CATAFAL, Jordi. OLIVA, Clara. A Gravura. Lisboa: Estampa, 2003.
HERSKOVITS, Anico. Xilogravura: Arte e Técnica. Porto Alegre: Tchê, 1986.
HOBSBAWM: Eric. Era dos Extremos; o breve século 20, 1914 – 1991. São Paulo: Companhia das letras, 1995.
SCARINCI, Carlos. A Gravura no Rio Grande do Sul – 1900-1980. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982.

DVD;
Tropa de Elite. Zazen produções. Elenco: Wagner Moura, André Ramiro, Caio Junqueira, Milhem Cortaz, Fernanda de Freitas, Fernanda Machado.

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